ATA DA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 05.04.1994.
Aos cinco dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e quatro reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Terceira Sessão Solene da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Primeira Legislatura. Às dezessete horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Instituto de Educação Flores da Cunha, pela passagem de seu centésimo vigésimo quinto aniversário, conforme Requerimento nº 03/94 (Processo nº 29/94) de autoria do Vereador Jocelin Azambuja. Compuseram a Mesa: Vereador Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Vereador Henrique Fontana, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre, Professora Eloáh Moraes do Instituto de Educação Flores da Cunha, Doutor Sandro Dorival Marques Pires, representando a Procuradoria Geral de Justiça do Estado, Jornalista Firmino Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa, Senhor Alfredo Eni Ferreira, Presidente do Círculo de Pais e Mestre do Instituto de Educação Flores da Cunha, Vereador Jocelin Azambuja, proponente da Sessão e, na oportunidade, Secretário “ad hoc”. Após, o Senhor Presidente leu e entregou à Diretoria do Instituto de Educação Flores da Cunha correspondência recebida relativa ao evento e convidou a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional. Em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Jocelin Azambuja, em nome das Bancadas do PTB, PDT, PMDB, PFL, PT, PPS e PSDB, prestou homenagem ao Instituto de Educação Flores da Cunha, historiando sobre a educação no nosso Estado e, em especial, em Porto Alegre, e destacando ser a Instituição hoje homenageada a primeira escola de formação de professores aqui construída. Ainda, disse terem passado por ela nomes reconhecidos nas mais diversas áreas para onde dirigiram sua atuação, atentando para a importância da educação como bem maior de um País, devendo ser priorizada por toda a comunidade. O Vereador Henrique Fontana, em nome da Bancada do PT, enfatizou a necessidade de valorização de experiências passadas para a construção da história humana em seu caminho na busca de uma sociedade mais digna. Destacou o significado da educação para aprimorar a capacidade de livre arbítrio, analisando o real sentido dessa capacitação na vida individual e coletiva das pessoas. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PPR, saudou o Instituto de Educação Flores da Cunha, comentando a experiência acumulada por esse Instituto em seus cento e vinte e cinco anos de existência. Ainda, teceu análises sobre a influência do professor na vida dos cidadãos, propugnando pelo cumprimento dos direitos dessa categoria profissional, tendo em vista que os professores exercem suas obrigações com responsabilidade, lidando, cotidianamente, com os futuros líderes de nosso País. A Vereadora Maria do Rosário, em nome da Bancada do PC do B, avaliou a importância da educação dentro de uma sociedade, comentando sobre o nível viável de vivência democrática observado em uma escola pública. Disse que falar sobre o Instituto de Educação Flores da Cunha é falar de uma história de defesa da escola pública como espaço para convivência e debate dos mais diferentes pontos de vista, relatando episódios vividos como estudantes dessa instituição. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Doutor Sandro Dorival Marques Pires que, como representante do Poder Judiciário, saudou o Instituto de Educação Flores da Cunha, discorrendo sobre a história dessa Instituição e destacando seu valor para o desenvolvimento cultural de Porto Alegre e de todo o nosso Estado. Ainda, o Senhor Presidente concedeu a palavra a Senhora Eloáh Moraes, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa ao Instituto de Educação Flores da Cunha, dizendo de sua emoção por participar das comemorações relativas ao transcurso dos cento e vinte e cinco anos desse Instituto e declarando que manifestações como a do Legislativo Municipal servem de alento para a continuidade da luta em busca do aprimoramento da educação em nossa sociedade. Durante a Sessão, o Senhor Presidente registrou as presenças, na Casa, de integrantes do Instituto de Educação Flores da Cunha: Professora Martina San Pedro Fagundes, Vice-Diretora Geral, Professora Maria Joselfa Tafarel, Vice-Presidente do Círculo de Pais e Mestres, Professora Mariza Stolmick, Presidente do Conselho Escolar, Professora Glória Helena Valente de Boer, Presidente do Grêmio de Professores, Professor Júlio Cezar Di Luca, Professor de Matemática, Professora Rosa Helena Gobato, Coordenadora Pedagógica Geral e Membro do Conselho Escolar, Professora Sandra Grissolia, Professora de Língua Portuguesa e Membro do Conselho Escolar, Professora Emília Eni Winkler, Assessora da Vice-Direção do 2º Grau, Professora Valdeci Bezerra, 2ª Secretária da Associação dos ex-Alunos, Professora Nellye Mariath, Presidente do Conselho Deliberativo e Membro da Associação dos ex-Alunos, Senhor Sérgio Cavelo Rodrigues, Pai de Aluna e Membro do Conselho Escolar e do Círculo de Pais e Mestres. Às dezoito horas e trinta e seis minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos, destacando a importância da presente homenagem a uma instituição escolar tradicional e marcante na cultura gaúcha e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Luiz Braz e secretariados pelo Vereador Jocelin Azambuja, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Jocelin Azambuja, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.
(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia do documento original.)
O SR. PRESIDENTE (Luiz
Braz):
Estão abertos os trabalhos da 3ª Sessão Solene, destinada a homenagear o 125º
aniversário do Instituto de Educação Flores da Cunha.
Convidamos para fazer parte da Mesa a Exma. Sra. Diretora do Instituto
de Educação Flores da Cunha, Profa. Eloáh Moraes; o Exmo. Sr. representante da
Procuradoria-Geral de Justiça do Estado, Dr. Sandro Dorival Marques Pires;
Exmo. Sr. representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Ver.
Henrique Fontana; Exmº Sr. representante da ARI, Jornalista Firmino Cardoso;
Exmo. Sr. Presidente da CPM do Instituto de Educação Flores da Cunha, Sr.
Alfredo Eni Ferreira.
Registramos, também, uma comunicação do Deputado Estadual Cezar
Schirmer.
(Lê.)
“Senhor Presidente:
Tendo, com grata satisfação, recebido desta Câmara Municipal, convite
para participar da Sessão Solene do dia 05 de abril, que irá homenagear a
passagem do 125º aniversário do Instituto de Educação General Flores da Cunha,
informo impossibilidade de comparecimento em razão de compromissos previamente
agendados.”
Passamos as mãos da Sra. Diretora do Instituto de Educação Flores da
Cunha a correspondência enviada pelo Dep. Cezar Schirmer.
Convidamos a todos para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(É executado o Hino Nacional.)
Queremos cumprimentar, aqui, o Ver. Jocelin Azambuja, Líder da Bancada
do meu Partido, o Partido Trabalhista Brasileiro, pela feliz idéia de ter
proposto esta Sessão Solene, que foi aprovada por toda a Câmara, comemorando os
125 anos de existência do Instituto de Educação Flores da Cunha, o mais
tradicional na formação de professores em todo o nosso Estado, e que passou por
uma época em que, na verdade, os alunos para adentrarem nas suas escolas tinham
que antes cantar os Hinos, que são as glórias do nosso passado. Entre eles, o
Hino Nacional Brasileiro que se constitui, realmente, num dos maiores ufanismos
que temos, quando ele é entoado e quando podemos ouvir, cantar e sentir o
pulsar dos corações aos seus versos.
Nós convidamos o primeiro orador desta Casa, Exmo. Sr. Ver. Jocelin
Azambuja, proponente da homenagem, que falará pelas Bancadas do PTB, do PDT, do
PMDB, do PFL, do PT, do PPS e do PSDB.
O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente, meu caro
colega de Bancada, Ver. Luiz Braz; Exma. Sra. Diretora do Instituto de Educação
Flores da Cunha, Professora Eloáh Moraes; Exmo. Sr. representante da
Procuradoria-Geral de Justiça do Estado, Dr. Sandro Dorival Marques Pires;
Exmo. Sr. representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre Ver.
Henrique Fontana; Exmo. Sr. representante da ARI, Jornalista Firmino Cardoso;
Exmo. Sr. Presidente do CPM do Instituto de Educação, Alfredo Ferreira; nossa
Presidente do Grêmio de Professores, Professora Glória; do Conselho Escolar,
Professora Marisa, ex-Diretora, também, da Escola; os alunos representantes da
sua entidade, do seu Grêmio Estudantil; ex-Diretores, Professores,
Funcionários, alunos do Instituto de Educação Flores da Cunha.
Este momento nos parece muito importante e a Câmara de Vereadores de
Porto Alegre não poderia se furtar, de forma alguma, de prestar uma homenagem a
um educandário que completa 125 anos, que tem uma história, e estão aqui os
ex-Professores, ex-alunos, Presidente da Associação, quer dizer, está uma
parcela da vida da educação do nosso Município e do nosso Estado.
O nosso Instituto de Educação, na verdade, há 125 anos atrás foi a
primeira escola de magistério, de formação de professores. O saudoso e grande
homenageado deste Estado, o Padre Cacique, foi o primeiro diretor e fundador da
primeira escola de formação de professores aqui na nossa Cidade. Isso foi
realmente um símbolo muito importante. Pelo Instituto de Educação passaram
nomes do mais reconhecido saber, do mais reconhecido trabalho na esfera
política, no campo social, em todas as áreas. Eu repassava, há alguns dias
atrás, a revista dos 100 anos do Instituto de Educação - a Sra. Diretora me
passou às mãos uma cópia onde encontrei ali fotografia de colegas do CAIE e de
uma amiga que hoje é minha cliente, a Sônia, que era Secretária-Geral do CAIE,
quando participávamos das lutas do movimento democrático, em 1966, lá num Congresso
Estudantil em Santa Rosa, para tentar manter a União Gaúcha dos Estudantes
Secundários. Quando eu era presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Inácio
Montanha, fazíamos atividades conjuntas com o Instituto de Educação, numa época
em que as escolas comungavam da fraternidade de uma relação muito íntima, e o
Instituto de Educação tinha uma relação muito profunda com todas as escolas de
Porto Alegre e do Estado.
O nosso Digníssimo Dr. Sandro me recordava, agora, um episódio
interessantíssimo de que no encerramento da II Guerra Mundial, por exemplo,
quando veio ao Rio Grande do Sul um general americano, representando das Forças
Armadas Norte-Americanas, o único local que ele quis conhecer da vida civil da
nossa Cidade foi o Instituto de Educação - é um interesse por uma área tão
importante como a educação. E assim existem tantos outros que cada um de nós
conhece na vida da nossa Cidade e da realidade da educação.
Claro que vivemos hoje momentos muito diferentes, momentos muito
difíceis nas relações da sociedade, nas relações da comunidade, nas relações
com os Governos diante da insensibilidade que vemos, hoje, graçar por parte das
autoridades máximas do Poder Público. Isso tudo nos inquieta, isso tudo nos
angustia como pais, como Vereadores desta Cidade, como homens públicos. Mas,
por outro lado, também, não nos podemos furtar de dizer que o Instituto de
Educação completa 125 anos. A par de todos os conflitos que existam, de toda a
realidade que nós vivenciamos no dia a dia, nós não podemos esquecer que o Instituto
de Educação aí está, e que precisa continuar cumprindo uma missão, que exige de
todos nós, como sociedade, que ele cumpra uma missão, até porque as autoridades
são passageiras, os governantes são passageiros, mas a educação não. A
educação, como bem maior nosso, tem que ser preservada. Essa é a nossa
obrigação. Nós somos transitórios nos cargos, a Profa. Eloáh, os membros da
comunidade escolar, os dirigentes. Eu já fui Presidente de CPM. Hoje, já não
sou mais. Já sou figura do passado, porque todos nós passamos. Mas a essência
fica. O Instituto de Educação vai ficar. Ele vai ter que continuar a sua
caminhada. E será obrigação de cada um de nós, dos cidadãos de Porto Alegre, do
Estado do Rio Grande do Sul, de fazer com que o Instituto de Educação Gen.
Flores da Cunha volte a ser aquela escola que todos nós sonhamos, que a
educação, como um todo, volte a ser aquilo que todos nós queremos, ou que seja
aquilo que nós não conseguimos que fosse ainda neste País.
A educação tem que ser a nossa primeira mola mestra de desenvolvimento
deste País. Nós nos aproximamos agora de decisões eleitorais, criticamos os
políticos, os homens públicos, pela postura, mas esquecemos que tudo isso
acontece porque o nosso País não tem educação. Falta a educação que o nosso País
precisa ter para avançar como sociedade.
Por isso que nós fizemos questão, hoje, de prestar esta homenagem ao
Instituto de Educação, que tem que corporificar aquela vontade máxima nossa de
fazer com que a educação ande, que os professores, que os futuros alunos da
Escola de Magistério, possam ser professores orgulhosos da sua profissão. Eu
tenho lá uma filha que vai ser professora, que já está exercendo as suas
atividades por aí, e ela tem ambição de ser uma grande professora, e vai ser,
como são grandes as professoras que lá estão hoje, e que vão ter no futuro o
respeito pela a dignidade, pela sua condição essencial de sobrevivência e de
vida. Lembrava-me um dia o nobre Ver. João Dib - até vou contar porque pode ele
querer contar depois -, ele dizia que um dia foi à Alemanha, em um curso que
fazia como funcionário do Município, com mais dois colegas engenheiros, e um
era professor. E quem os alemães reverenciavam e tratavam com cerimônia
especial? Era o professor. Não era o engenheiro. Porque o professor era a
figura máxima na Alemanha. E para nós, pais é importante que essa imagem seja
resgatada. Por isso propusemos está lembrança, hoje, dos 125 anos do Instituto
de Educação General Flores da Cunha, para que esta Casa pudesse prestar esta
homenagem a todos aqueles que passaram e àqueles que passarão pelo Instituto de
Educação, e a todos aqueles que lutam para que o Instituto de Educação Flores
da Cunha continue sendo, de fato, um orgulho para todos nós porto-alegrenses,
para todos nós rio-grandenses e para o nosso País. Porque temos que,
independente de qualquer coisa, lutar para preservar a nossa educação, lutar de
todas as formas. E não esquecer, em nenhum momento, que precisamos ter raízes,
precisamos ter passado, porque quem não tem passado não tem futuro, não tem
presente. E nós precisamos ter um futuro, e o futuro passa, justamente, por
reverenciar esse passado que o Instituto de Educação tem com tanto orgulho em
sua história, e pelo conhecimento de cada um dos seus ex-alunos, professores,
funcionários, enfim, por todos aqueles que tiveram a felicidade de estar lá no
Instituto de Educação General Flores da Cunha. Receba, o Instituto e toda sua
comunidade escolar, o nosso reconhecimento e o desejo de que possamos,
realmente, fazer com que a educação avance no nosso Município, no nosso Estado
e no nosso País. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Queremos cumprimentar
pessoas presentes vinculadas ao Instituto de Educação, a Vice-Diretora Geral,
Profa. Martina San Pedro Fagundes; a Vice-Presidente do CPM, Profa. Maria
Joselfa Tafarel; Presidente do Conselho Escolar, Profa. Mariza Stolmick;
Presidente do Grêmio de Professores, Profa. Glória Helena Valente de Boer;
Prof. Júlio Cezar de Luca professor de Matemática, Profa. Rosa Helena Gobato,
Coordenadora Pedagógica Geral e Membro do Conselho Escolar; Profa. Sandra
Grissolia, professora da Língua Portuguesa e membro do Conselho Escolar; Profa.
Emilia Eni Winckler, Assessora da Vice-Direção do II Grau; Profa. Valdeci
Bezerra, Segunda Secretária da Associação dos ex-alunos; Profa. Nellye Mariath,
Presidente do Conselho Deliberativo e Membro da Associação dos ex-Alunos; Sr.
Sérgio Cavelo Rodrigues, pai de aluna e Membro do Conselho Escolar do CPM; e
demais Professores que se encontram presente. Todos sejam muito bem-vindos a
esta Casa do Povo.
A palavra está com o Ver. Henrique Fontana, em nome da Bancada do PT.
O SR. HENRIQUE FONTANA: Exmo. Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Luiz Braz; Exma. Sra. Diretora do
Instituto de Educação, Profa. Eloáh Moraes; Exmo. Sr. representante da
Procuradoria-Geral da Justiça do Estado, Dr, Sandro Dorival Marques Pires;
Exmo. Sr. representante da Associação Rio-Grandense de Imprensa, Jornalista
Firmino Cardoso; Exmo. Sr. representante do CPM, do Instituto de Educação, Sr.
Alfredo Eni Ferreira. Eu falo em nome da Bancada do PT, e represento o Prefeito
Municipal da Cidade, meu companheiro Tarso Genro, neste ato. Gostaria de
começar, dizendo que nos dias de homenagem, sempre, além de nos divertirmos,
terminamos fazendo reflexões sobre coisas que dizem respeito à história daquilo
que comemoramos. Acho que enfatizar, inicialmente, a importância de que cada um
de nós, em qualquer período da vida que esteja, desde os mais jovens, até os
mais idosos, valorize a experiência passada e o acúmulo histórico de cada uma
das pessoas que, afinal, construíram a humanidade ao longo de toda existência
humana, penso que só assim vamos conseguir construir uma humanidade cada vez
melhor, que é o objetivo de todos nós, venhamos das mais diferentes posições
políticas, das mais diferentes visões de mundo; grande maioria quer construir
uma humanidade mais digna.
Eu sou médico e atualmente sou Vereador, e a charge de hoje - não sei
se é de hoje - do São Paulo, na “Zero Hora”, fala muito mal dos políticos,
porque ela faz uma analogia dizendo que os banqueiros do “jogo do bicho” se
reuniram em torno de uma mesa e estavam passando um “pito” em seus subordinados
dizendo: “olha, vocês têm que parar com esse negócio de se meter com os
políticos, porque desse jeito nós vamos acabar desqualificado a nossa
intervenção na sociedade”; eu estou fazendo uma frase muito simples. Quando eu
olho isso, eu encontro uma motivação a mais para ser político, porque eu acho
que todo tipo de generalização é parte de um preconceito que não contribui para
a construção da sociedade que a gente tenta e que as pessoas que estão aqui,
que fizeram e que fazem a história destes cento e vinte cinco anos desta
entidade de educação, seguramente, buscaram. Uma das questões fundamentais que
a educação tem de mais maravilhoso é permitir que cada uma das pessoas, de
posse da capacidade de analisar situações pelas quais o mundo passa, de
analisar os acontecimentos, que cada um dos seres humanos tenham condições ao
livre-arbítrio. Na verdade, nós ainda lutamos na nossa sociedade e a educação é
a ferramenta mais fundamental para isso. Nós lutamos para que todos os homens e
mulheres tenham direito ao livre-arbítrio, aquilo que parece ser o direito mais
elementar, o direito de decidir o que querem para o seu futuro. Como,
infelizmente, um boa parte da nossa sociedade está impedida de ter acesso a
essa ferramenta tão fundamental que é a educação, esta parte da sociedade não
tem direito ao livre-arbítrio e, portanto, se torna uma presa fácil para
aqueles que tendo direito ao livre-arbítrio. Muitas vezes fazem opções que não
são em benefício do coletivo, em prol da humanidade como um todo e manipulam
aqueles que não têm o livre-arbítrio para poder implantar as suas políticas, as
suas vontades, etc. Eu acho que esse livre-arbítrio que a gente tanto luta, os
educadores, aqueles que buscam a educação, os que estudam porque, no final,
todos nós aprendemos e ensinamos em todos os momentos da vida; não temos
mestres que ensinam e alunos que aprendem em todos os momentos, ao contrário,
esse papel se inverte constantemente na sociedade. Eu acho que nós temos
condições, na verdade, de vencer um conceito que existe - e para mim é um
conceito, porque não é embasado numa análise aprofundada dos fatos - de como se
constrói o livre-arbítrio. Vemos que a ideologia dominante da nossa sociedade
faz um esforço grande para hipertrofiar o livre-arbítrio. Em termos do direito
de escolher o que queremos comprar, por exemplo; o que queremos consumir, agora
isso é uma parte do livre-arbítrio, mas é uma parte muito pequena. O desafio
das pessoas que estão aqui, que construíram a história desta entidade
educacional que estamos homenageando, o desafio de todos nós é permitir que
esse livre-arbítrio que todos queremos construir, seja feito em cima do
livre-arbítrio decidir o que é que nós queremos para a humanidade. Não só o que
nós queremos, consumir, comprar ou etc. A liberdade vai bem além disso. Nós
vivemos, seguramente, o desafio de resgatar estas questões.
Eu encerraria dizendo que nós vivemos um período social, político e de
relação entre as pessoas, em que existe uma impregnação muito grande de um
ceticismo - eu colocaria assim -, existe uma impregnação muito grande daquela
frase que ouvimos desde a pessoa que possui o discurso mais sofisticado, porque
teve acesso aos bancos escolares, até a frase mais simplória de uma mesa de
bar, dizendo: “Não adianta, as coisas não mudam”. Parece mentira, mas o tempo
passa, lutamos, e parece que o mundo não vai mudar. Pois bem, eu acho que nós
que estamos aqui homenageando uma entidade que luta para permitir esse
livre-arbítrio que coloquei; nós estamos exatamente na contramão desse
discurso; nós estamos, exatamente, aceitando o desafio de viver a possibilidade
de podermos dizer “não”.
O futuro da humanidade não está traçado para o lado da não-mudança;
para o lado da perpetuação de mecanismos que nós discordamos. Ao contrário,
quando todos nós tivermos direito ao livre-arbítrio, quando a educação tiver
neste País o espaço que ela merece, seguramente, nós teremos a ferramenta na
mão para construir o País que a média da vontade das pessoas quer. Porque um
País não é construído com uma verdade absoluta. Não existe nenhum partido
político, nenhum indivíduo, que tenha a verdade sobre o futuro da humanidade.
Existem, sim, indivíduos que defendem intransigentemente a democracia para que
todas as verdades de cada uma das pessoas que em cada momento acredita ser
aquela a verdade final, mas que pode ser convencida no convívio democrático,
entre diferentes visões da sociedade, de que aquele pode não ser o melhor
caminho. No momento em que nós garantirmos esse acesso democrático, nós podemos
dizer que esse discurso de que nada muda pode terminar e que podemos construir
a sociedade dos nossos sonhos.
Meus parabéns a todos vocês e vamos lutar para construir um mundo
melhor. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, pelo PPR, o
Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Exmo. Sr. Presidente Ver.
Luiz Braz; caríssima Profa. Eloáh Moraes, Diretora do Instituto de Educação;
meu caro Dr. Sandro Dorival Marques Pires, representando a Procuradoria-Geral
de Justiça do Estado, meu caro colega Ver. Henrique Fontana, representando S.
Exa. o Prefeito Tarso Genro; meu caro amigo e Jornalista Firmino Cardoso,
representando a ARI; meu caro Alfredo Ferreira, Presidente do CPM do Instituto
de Educação; Senhores; Senhoras; todos que amam muito o Instituto de Educação.
Assisti no domingo a uma belíssima entrevista de Dom Antônio Cheuiche.
Ele falava de uma conferência de Einsten sobre o tempo e nessa conferência
interveio Ortega y Garcez. Enquanto Einstein falava na medida do tempo passado,
presente e futuro, o filósofo dizia do tempo memorial, do tempo vital e de
todas as diferentes nuanças de tempo que podem ser medidas. Então, é difícil
dizer se cento e vinte e cinco anos é muito ou se é pouco tempo. Para a vida de
uma criatura humana seria um tempo extraordinário, os jornais estariam
noticiando, estaria já no declínio da vida, no ponto máximo que pudesse ter
atingido, estaria praticamente morrendo. Mas uma instituição, uma entidade, aos
cento e vinte e cinco anos, está se consolidando cada vez mais, está se
tornando cada vez mais forte, está se tornando cada vez mais útil e cada vez mais
competente. Mas no tempo memorial da Professora Eloáh, isso há de ficar marcado
profundamente, ela era diretora quando a escola fez 125 anos. Isto ninguém vai
lhe tirar, o tempo não tem método para ser medido. Ficará profundamente marcado
na sua consciência, na sua inteligência e, também, no seu coração.
Mas a minha vinda a esta tribuna não seria exatamente para falar dos
125 anos, já que eu disse que é difícil avaliar o tempo, muito difícil. É a
oportunidade que temos de falar dessa criatura essencial da sociedade humana,
que é o professor. O professor, essencial que é, é esquecido, abandonado.
Sinto-me profundamente triste, porque gostaria de fazer muitas coisas pelos
professores. Talvez, algum dia no Município, eu tivesse feito, quando fui
Prefeito. Algumas coisas aconteceram no quadro de professores, mas eu gostaria
de fazer muito mais. Vejam que o professor, tão importante, não consegue encher
esta sala. Esta sala deveria estar superlotada, porque a figura mais importante
da sociedade está sendo homenageada hoje, nos 125 anos do Instituto de
Educação. O Instituto de Educação começou a funcionar quando era Imperador do
País D. Pedro II, que, em declarações trazidas através de Humberto de Campos
dizia: “Se eu não fosse Imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão
maior e mais nobre do que dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens
do futuro”. O professor me ensinou a ler, a escrever, a raciocinar, a fazer as
quatro operações, e foi me levando sempre, até que saí engenheiro, mas sempre
dependendo do professor. Se muitas coisas não pude fazer pelo professor, quando
fui Prefeito chamei meu chefe de gabinete e disse: quando alguém chegar aqui e
disser que foi meu professor, não importa quem eu esteja atendendo. Abram-se as
portas, não precisa nem se identificar, documento, nada. “Fui professor do João
Dib” chega. Posso dizer que todos os professores que lá chegaram foram
atendidos, e um dia a minha mãe chegou e não foi atendida. Realmente o
professor, para mim, é a mola mestre de tudo o que ocorre nas nossas vidas e na
nossa sociedade. Há uma frase que é minha, que gosto de dizer: o direito nasce
do dever. Recentemente, em uma mensagem que mandei para amigos meus eu dizia
exatamente isso. “O direito nasce do dever”. É tão importante o dever, que se
todos cumprissem com os seus deveres nós não tínhamos que nos preocupar com os
nossos direitos, porque sempre aquele que cumpre com o seu dever sabe que tem
que respeitar o direito do seu semelhante. Mas infelizmente não é o que
acontece. Se assim fosse o professor que sempre está cumprindo com o seu dever
teria respeitando os seus direitos. Lamentavelmente não tem, e talvez até que
Júlio Camargo no seu trabalho “A arte de sofismar” ele dizia: “o professor é
inteligente, mas não é inteligente ser professor”; talvez ele já soubesse
naquele tempo todas as dificuldades que o professor de hoje estaria vivendo,
não só em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mas no Brasil inteiro. A educação
está relevada a um plano secundário e nós só vamos conseguir todas as coisas de
que precisamos, todas as coisas que temos direito se nós cumprirmos o nosso
dever com o professor. E este está sendo esquecido. Então é importante, como
disse o Ver. Jocelin, talvez seja esse o momento de reflexão, uma reflexão para
que nós comecemos a pensar, e esses pensamentos se irradiem: o professor
precisa ser mais cuidado.
Portanto minha querida Professora Eloáh, nos 125 anos do Instituto de
Educação, receba a homenagem do PPR e a nossa esperança de que os direitos dos
professores venham a ser respeitados. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela Bancada do PC do B,
Vera. Maria do Rosário.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Exmo. Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Luiz Braz; demais nominados que
participam da Mesa; Senhores Vereadores; Vereador Jocelin Azambuja, autor da
homenagem; muito especialmente Professora Mariza Stolmick; muito especialmente
Professora Paulina; Professora Glória; Professora Glaci; Professora Emília;
todos os presentes; professores; alunos; o Ângelo, o Presidente em exercício do
CAIE - Conselho de Alunos do Instituto de Educação. É uma alegria enorme para
nós participarmos de uma sessão em homenagem ao Instituto de Educação pelos
seus 125 anos, porque falar da história do Instituto é falar da história de
muitas pessoas que passaram pelos seus prédios e espaços e escreveram ali, como
alunos, professores, pais e funcionários, uma história de defesa da escola
pública, na possibilidade dela ser um espaço de democracia e de crescimento
humano, acima de tudo. Pessoas que muito aprenderam ali e que andam por este
Estado inteiro a divulgar e socializar seus conhecimentos. Certamente, se
aprendemos alguma coisa dentro do Instituto de Educação, aprendemos a respeitar
as opiniões diferentes e a conviver com a democracia.
No momento em que homenageamos uma instituição do porte do Instituto de
Educação General Flores da Cunha é comum se buscar na história pessoal pontos e
momentos que demostrem o respeito que se tem por essa instituição. Portanto,
peço licença para falar sobre uma história muito minha, vivida com tantas
pessoas, história verdadeira e de muita paixão.
O Instituto foi um espaço para onde fui porque tive dificuldades em
outra escola, onde era presidente do Grêmio, e para onde minha mãe achava que
eu deveria ir, porque era uma escola de meninas - minhas irmãs já haviam lá
estudado - e uma escola de moças bem comportadas. Minhas mãe tinha razão: além
de escola de moças era uma escola de participação e de respeito. Num período
muito rico da vida deste País, quando os professores foram às ruas para dizer
que não queriam mais a ditadura militar, para exigir eleições diretas nas
direções das escolas. Quando as greves do magistério explodiam, éramos
chamados, como alunos, a nos fazermos presentes e apoiar aqueles movimentos e a
reorganizar o Conselho de Alunos do Instituto de Educação com o objetivo de que
ele fosse o polo aglutinador dos estudantes daquela Escola. Não poderia deixar
de falar de uma personagem importante desta história toda, uma diretora que nos
honrou como membros daquela comunidade, a Profa. Mariza Paes de Azambuja. Foi
naquele momento de ruptura e crescimento que a Escola chegou a uma força
enorme, e que alunos, professores, pais, todos unidos, fizeram crescer como um
gigante o Instituto de Educação. Tenho muita honra de ter participado desse
momento, uma honra enorme de ter sido Presidente do Conselho de Alunos do
Instituto de Educação por duas gestões; de ter estado à frente da luta dos
estudantes, ao lado dos professores em todo esse processo; de ter cantado
tantas vezes o Hino do Instituto, e dizer que juntas nós cantávamos uma marcha
triunfal, a marcha da escalada do ideal pela glória do Instituto e a grandeza
do Brasil. Nós cantávamos e a Paulina, como professora acompanhava. Tive muita
honra de viver aquele momento de democratização neste País. Nesta Escola eu fiz
a opção para o magistério, principalmente pelo respeito às professoras, a
dignidade com que defendiam a cada momento esta profissão tão desgastada por
governos, mas tão valorizadas pelo trabalho com os alunos na sala de aula.
Aprendi o que é democracia, o que ela pode construir quando dentro de uma
Instituição, porque o Instituto muito antes de a eleição de diretores ser lei,
vivia esse processo dentro da própria Escola. Aprendi também que o
autoritarismo nega os direitos mais elementares, castra os desejos, pode
estabelecer a passividade mesmo que momentânea, mas ao mesmo tempo ele faz
crescer dentro da gente uma vontade de mudar, de reverter essa situação e de
reafirmar a nossa Escola, o nosso espaço como de liberdade de direitos da
sociedade. O autoritarismo no pleno do conhecimento torna as pessoas
repetidoras; impede a dimensão criadora do ser humano. O autoritarismo
desumaniza quem é autoritário o impõe métodos impedindo as pessoas de
crescerem. Os primeiros prejudicados poderão ser nós, mas no fundo o retorno
disso tudo faz reverter essa angústia toda, que vivemos nos dias de hoje,
contra os próprios autoritários. Eu quero dizer que aprendi no IE o que é
companheirismo e que não precisamos de uma sociedade homogênea, mas do respeito
às diferenças. Eu tenho certeza de que tudo isso que aprendi ali dentro, eu
trago muito profundamente a minha vida, exercendo, vivendo aquela reflexão
feita nos anos do Institutos de Educação, dentro da Câmara de Vereadores, no
magistério, como colegas hoje, com os meus alunos. Eu acho importante dizer que
a contribuição dessa escola para democratização da sociedade foi extremamente
importante e fica marcada no coração de todos nós que nos 125 anos do Instituto
de Educação nós vivemos um período autoritário e vivemos uma situação de
intervenção, mas que pudemos, somos capazes - porque não se pode impedir a
primavera, como tantas vezes os poetas dizem -, mas somos muito capazes de
reverter essa condição e, certamente, as gerações futuras não vão acreditar que
tivemos que passar por tudo isso, e vão agradecer a trilhar novamente o caminho
da liberdade e da democracia. Viva muito profundamente o Instituto de Educação
que está profundamente vivo dentro de todas vocês, dentro de cada aluno, dentro
de todos nós para sempre. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Os momentos que estamos
vivendo nesta tarde, aqui na Câmara de Vereadores, dizem respeito ao carinho,
amor de todas as pessoas que, de alguma forma, estão vinculadas ao Instituto de
Educação Flores da Cunha. Em nome de tudo isso é que quebrarei mais uma vez o
protocolo. Tenho aqui ao meu lado uma pessoa que admiro muito, o Dr. Sandro.
Ele é meu amigo, já de muitos anos e aprendi a admirar sua coerência ao lidar
com os vários segmentos da sociedade. Uma das oportunidades em que estivemos
juntos foi quando ele estava julgando o desfile das escolas de samba na
avenida, com muita maestria comandando os julgadores das escolas. Ele pediu-me
que pudesse falar alguma coisa, e eu considero este o momento de permitir que o
Dr. Sandro, como representante da Procuradoria-Geral do Estado, possa utilizar
nossa tribuna para falar de seus vínculos com o Instituto de Educação.
O SR. SANDRO DORIVAL MARQUES
PIRES:
Eminente Presidente Ver. Luiz Braz; digna Diretora desse estabelecimento padrão
de ensino; demais componentes desta ilustre Mesa; nobre Vereador Jocelin
Azambuja, a quem de antemão, parabenizo pela feliz idéia de ter proposto a
cerimônia de hoje; estimado e prezado amigo particular Dr. João Dib; seleta
platéia aqui reunida. Preliminarmente impõe-se que se esclareça, de público,
por que requeri a quebra do protocolo, solicitando a Sua Excelência, o Sr. Presidente,
um minuto que fosse para dirigir a palavra neste momento tão significativo.
Justifica-se: uma pontinha de ciúmes, inicialmente, eis que aqui, de forma
brilhante, dois dos Poderes estatais, devidamente constituídos e muito bem
representados - o Legislativo e o Executivo Municipal, através do Sr. Prefeito
- fizeram-se presentes, saudando. Ora, não seria justo que o terceiro poder, o
Poder Judiciário, também não se associasse a esta manifestação. Aqui o faço na
qualidade de Procurador de Justiça e de integrantes da 8ª Câmara Civil do
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado. Portanto, quer no sentido “lato sensu”,
quer no sentido “strictu sensu”, acho que, modestamente, posso associar-me às
homenagens ao Instituto de Educação Flores da Cunha, em nome do Poder
Judiciário e do Ministério Público.
Num segundo momento, diria que outra causa existe, também, fui anos
professor do ensino primário, secundário e superior. Estou encharcado dos
mesmos sentimentos e das emotividades que trouxeram essa plêiade de professoras
dignas e batalhadoras da causa da educação a este Plenário.
O terceiro elemento justificador seriam os laços afetivos que me
prendem a figura deste educandário.
Para não ser repetitivo, apenas quero dizer que a história da educação
brasileira apresenta um verdadeiro divisor de águas: a criação da velha e
afetiva Escola Complementar. Aquela Escola Complementar que, por tantos anos,
eu ao sair do velho Colégio Anchieta, na rua Duque de Caxias, olhava no velho
Liceu, o topo da “Marechal Floriano”, depois de transformado em polícia civil,
que parecia vibrar com as coisas boas que tinham ocorrido naquele espaço
físico.
Então, três motivações, representando e associando-me aos demais
poderes: carinho, sensibilidade e aspecto harmônico de pensar com os meus colegas
professores; e por laços pessoais, afetivos. Esse divisor de águas de que
acabei de falar, é claro que seria repisar, ser repetitivo em coisas que ao
longo das décadas estão sendo anunciadas e trazidas à colação, o que significa,
o que significou e o que significará o Instituto concerto cultural de nossa
comunidade gaúcha e brasileira.
Permitam-me trazer alguns detalhes, algumas coisas que me tocam
profundamente, eis que das mesmas fui partícipe, fui platéia, fui visualizador
na oportunidade. Esse caso que o nobre Vereador trouxe à baila e,
generosamente, referiu-se como comunicação minha à pessoa dele, efetivamente
ocorreu. Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 08 de maio de 1945, o mundo
estava eufórico por ter dissipado-se aquela nuvem negra, que tinha acabado com
10 milhões de almas no solo europeu. O Exército Brasileiro, o Brasil, tinha
colaborado com a sua divisão militar, para nós afetivamente chamada de Força
Expedicionária Brasileira, e essa FEB ao chegar ao porto de Nápoles, foi
abdicada, foi incorporada ao 5º Exército Americano. E esse 5º Exército
Americano, que fazia o “front” da Europa, comandado pelo General Mark Klarck;
em compensação, com nome quase homônimo, no Pacífico, em outro “front”, o
General Douglas McArtur, nomes simétricos. O nosso General Mark Klarck teve sob
suas ordens o nosso Marechal Mascarenhas de Moraes, que era o Comandante da
FEB, filho de São Gabriel, terra dos marechais. Terminada a guerra, o General,
então Comandante de todo o teatro de operações da Europa, vem ao Brasil, porque
fazia questão de rever Mascarenhas de Moraes. Ao chegar em Porto Alegre, para
fazer o transbordo e ir àquela região quase fronteira, ele fez uma exigência:
queria, e só aceitava fazer uma visita de caráter civil, que foi ao Instituto
de Educação. Por quê? Porque ele sabia de coisas do Instituto. Sabia até mesmo
que aquela colunata greco-romana do prédio era algo semelhante, que a ele muito
dizia respeito, porque era praticamente a réplica do colégio americano onde ele
fizera seus estudos. Ao adentrar no velho auditório do Instituto, ele foi
recebido pelo Coro Orfeônico das meninas que, sob a regência da falecida
Professora Dinah Néri, cantou uma saudação, em inglês, que iniciava: “How do
you do, Mr. Clark?” É uma coisa que marca.
Passam-se cinco anos; início da década de 50. O Brasil, através de um
tratado diplomático, consegue reaver, do Governo Paraguaio, as 10 bandeiras
históricas que tinham sido levadas pelas nossas tropas, ao longo daquela
tenebrosa Guerra do Paraguai. Estavam apreendidas pelo Governo Paraguaio. Essas
bandeiras vieram com a finalidade precípua de se incorporarem ao Museu de Armas
do Exército Brasileiro. E, como o Rio Grande do Sul havia tido uma participação
muito saliente nessa época de beligerância que foi a Guerra do Paraguai, essas
bandeiras aqui chegaram para serem condecoradas, no Rio Grande do Sul, como
simbolismo do povo brasileiro, numa demonstração de aplauso à bravura dos
nossos soldados que lá tombaram. E o que acontece? São 10 alunos do CPOR em
uniforme de gala, na Praça da Alfândega de Porto Alegre, empunhando as 10
bandeiras históricas, algumas delas já rotas, revestidas por uma capa plástica,
algumas até, talvez, com uma ou outra gota de sangue ressequido de um dos
heróis pátrios. E quem condecora, quem coloca, no topo do mastro de cada uma, a
roseta e, depois, crava a medalha de ouro de condecoração? Dez normalistas do
Instituto de Educação. Essas coisas são coisas que marcam a história de um
estabelecimento; são coisas que marcam a história da cultura, a história do
ensino.
No período do Estado Novo, é bom que se diga - de 37 a 45 - no período
áureo dos desfiles da mocidade, chegou o momento em que o Dr. Coelho de Souza,
que era o Secretário de Educação do Estado, proibiu que o Instituto concorresse
ao concurso do desfile porque ele era sempre o vencedor e era sempre o
imbatível, deixando, claro, em desalinho, em constrangimento, as demais
escolas, inclusive as escolas particulares ricas, mantidas por freiras:
Sérvigné, Bom Conselho, colégios de renome, como todos conhecemos. Então, o
Instituto não podia mais concorrer, era “hors-concours”. O Instituto abria e
fechava a “Hora da Pátria”, dia 7 de Setembro, no antigo Campo do Pólo, onde
hoje está cravado o Hospital de Clínicas, porque ele era atração, inclusive, com
a Primeira Banda Feminina de Tamboreiras de Porto Alegre e do Estado.
São coisas que marcam e marcaram, como eu rabiscava há pouco, tentando
lembrar-me de homens e mulheres, sem desdouro aos atuais, mas que foram
verdadeiras bandeiras da cultura e do trabalho didático pedagógico: O Dr. Paulo
Tholens, Dr. Berlin; Profa. Marieta Maisonave Azeredo: a famosa madame Alice
Ie, francesa que tinha passado dissabores da Primeira Guerra Mundial na França,
sua terra natal e que vindo para cá dizia “ o Brasil é minha terra verdadeira,
por dois motivos: pelo que é em si e pela existência do Instituto, que é o meu
outro lar, não tenho saudades da Europa, porque tenho essas meninas e minhas
colegas professoras”, a figura de Nair Marques Pereira de Almeida, a figura nas
artes de Tony Pethzold, de Lia Bastian Meyer, a própria Diná, na sua arte
musical. Nomes proeminentes na direção daquela casa como Florida Tubino
Sampaio, Olga Acauan Geyer; a própria nominada há pouco, Profa. Marilda Fae
Azambuja, que talvez fruto da sua personalidade, de sua maneira de educar, de
conduzir as coisas dos jovens, formou uma filha brilhante que hoje é uma
brilhante promotora de Justiça, Dra. Regina Fae Azambuja.
São coisas que não podia calar neste momento. Não podia calar, nem
mesmo há pouco na ante-sala quando alguém dizia: “estamos tentando manter no
Instituto a chama de todas essas tradições”. E eu atravessei a conversa dizendo
que esta chama não existe só como figura de retórica, ela é em concreto mesmo.
Porque no próprio monograma, logotipo do Instituto, dentro do losango, apoiado
na barra central do “E”, existe um “I” e este “I” tem como ponto gráfico uma
chama que certamente encaminhou sempre os ideais de todos que naquela Casa
participaram.
Eu diria, para encerrar, que o Instituto mantém um paradoxo, algo que
surpreende: por fora aquele monumento de prédio, com aquelas colunadas rígidas,
mas se nós batermos, tatearmos naquelas paredes notaremos que são paredes
feitas de um material frio, claro! Tijolos, ferro, argamassa. Ah, meus amigos,
mas que paradoxo! Adentrando um milímetro a mais fora daquelas paredes o calor
é imenso, é o calor humano, o calor do ideal, o calor da fraternidade que age
constantemente e inflama dentro daquela instituição, instituição que como dizia
a nobre Vereadora que me antecedeu, aprendeu a cantar o seu hino e que beleza,
Vereadora, quando lembro, complementando as primeiras estrófes dita por V.Exa.,
eu vou cumprimentá-la para me afastar aqui, “não recuar, sempre avante para
vencer, o Instituto quer a Pátria engrandecer, a este Brasil a quem tanto
devemos. Há de sempre se orgulhar, de ver longe lá no Sul, o IE a brilhar”.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Valeu a pena ouvirmos aqui
o Dr. Sandro, trazendo momentos inesquecíveis do Instituto de Educação Flores
da Cunha.
E agora, aquele momento culminante da nossa tarde-noite aqui nesta
Sessão Solene. Nós vamos convidar para fazer uso da palavra, em nome do
Instituto de Educação da Cunha, a Profa. Eloáh Moraes.
A SRA. ELOÁH MORAES: Srs. Vereadores,
autoridades aqui presentes, Senhoras, Senhores, alunos.
É bíblica a frase: Quem ensinar aos outros brilhará no firmamento como
as estrelas. Tenho certeza de que o nosso centenário Instituto de Educação já
está brilhando no céu do Brasil, no nosso Estado, especialmente na nossa
Cidade. Brilhando por todas as pessoas, professores, alunos, funcionários, que
por ali passaram em busca do saber. Brilhando por todos que de lá saíram,
preparados, politizados, cultos. Gerações sucederam-se, e hoje ao comemorar os
seus 125 anos recebemos esta homenagem, Homenagem que eu gostaria de dividir
com todos os ex-diretores, com professores, alunos e funcionários. Uma
homenagem tão rica de simbolismo. Que as emoções desse dia sirvam de glória
para os que fizeram a história do Instituto de Educação e de alento para os que
prosseguem e prosseguirão nesta luta, muitas vezes não tão bem entendida. Uma
luta desgastante, mas que sem dúvida nenhuma a maior de todas as lutas: a luta
pela educação.
Eu gostaria de agradecer do fundo do coração a Câmara de Vereadores,
especialmente ao Ver. Jocelin Azambuja. Gostaria de agradecer também neste
momento a todos que não mediam esforços e que caminharam junto conosco. E
gostaria também de agradecer a todos que tentaram inviabilizar o nosso
trabalho, sem dúvida, nos ajudaram a crescer. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Neste final de solenidade
só podemos, realmente, novamente, cumprimentar o Líder da nossa Bancada, Ver.
Jocelin Azambuja pela feliz idéia de propor essa homenagem as 125 anos de
existência do Instituto de Educação. Cumprimentar a todos os Vereadores que
foram muito felizes em suas palavras, o Dr. Sandro, a Profa. Eloáh, aqueles que
não se manifestarão, mas que se encontraram presentes, o meu amigo Clovis
Ilgenfritz está aqui prestigiando esta homenagem ao Instituto de Educação. E,
dizer que uma instituição que tem um passado como este, tão glorioso, de tanta
força, realmente só pode servir de exemplo para todos nós porque esta força não
fica apenas concentradas lá no passado. Esta força também a gente nota que está
aqui presente, na presença de todas as senhoras, todos os senhores, nas
palavras que nós ouvimos, do posicionamento da Diretora, na vida que podemos
sentir nos olhares e nos sentimentos expressos de cada uma das pessoas que
pertencem ao Instituto de Educação e que vieram, hoje à tarde, aqui na Câmara
Municipal. O Ver. João Dib disse que esta Casa deveria estar cheia, deveria
estar repleta e realmente deveria, mas, quero justificar, como Presidente da
Casa, talvez a ausência de pessoas nesta tarde quando deveríamos realmente ter
uma grande festa e todas estas cadeiras tomadas. Os Vereadores desta
Legislatura, eu posso assegurar às senhoras e aos senhores, que são Vereadores
que têm trabalhado muito, cada um dentro das suas funções, e tenho certeza que
aqueles que não estão aqui é porque, na verdade, estão de alguma forma
cumprindo com as suas missões em qualquer canto desta Cidade, em contato com as
suas comunidades. Mas a vontade de cada um deles, eu tenho certeza, era poder
estar hoje presente nesta solenidade. Afinal de contas, hoje nós estamos
homenageando não apenas o Instituto de Educação Flores da Cunha, nós estamos
homenageando a Educação, nós estamos homenageando os professores, nós estamos,
na verdade, homenageando tudo aquilo que nós necessitamos para podermos formar
o nosso País, e termos, quem sabe a sociedade que nós tanto almejamos. Muito
obrigado a todos felicidades e muito sucesso. (Palmas.)
Encerramos a Sessão.
(Encerra-se a Sessão às 18h36min.)
* * * * *